Caso Sônia: doméstica escravizada por desembargador mobiliza autoridades

Sônia foi resgatada em junho de 2023 após trabalhar por 40 anos na casa do desembargador Jorge Luiz de Borba, em Florianópolis, em condições análogas à escravidão

Por Metropoles em 27/01/2025 às 11:02:02

Montagem; Desenho: Revista Piaui

A história de Sônia Maria de Jesus, de 50 anos – que foi resgatada em uma operação contra o trabalho análoga à escravidão da casa de um desembargador e que depois retornou à residência dos investigados – abre um precedente perigoso para o combate a esse tipo de crime, o caso está sendo acompanhado por entidades de direitos humanos, organizações não governamentais (ONGs), a sociedade civil, e o Ministério Público Federal.

Sônia foi resgatada em junho de 2023 após trabalhar por 40 anos na casa do desembargador Jorge Luiz de Borba, em Florianópolis, em condições análogas à escravidão. Ela foi mantida sem salário, sem documentação e sem acesso à educação ou comunicação, vivendo em condições precárias.

Apesar do resgate, em agosto de 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou a decisão de libertação, alegando insuficiência de provas, e permitiu que Sônia retornasse à casa dos Borba. Este episódio é único no contexto de combate ao trabalho escravo moderno, sendo o primeiro caso de "desresgate", como passou a ser chamado.

O pedido da família Borba de reconhecimento de paternidade socioafetiva de Sônia foi criticado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), pois a mulher nunca teve acesso a uma educação adequada ou interações sociais, o que desqualifica a alegação de vínculo familiar.

O caso se divide entre várias instâncias judiciais. O STJ está tratando da questão criminal, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) está lidando com ações trabalhistas e habeas corpus. Além disso, outras ações, como o pedido de reconhecimento de paternidade, seguem em andamento em Florianópolis. A Defensoria Pública da União (DPU) critica a demora no julgamento, destacando que a lentidão no processo agrava as violações aos direitos de Sônia e transmite uma mensagem negativa sobre o combate ao trabalho escravo.

A advogada de Sônia, Cecília Asperti, refuta o argumento de vínculo familiar, enfatizando que a mulher sempre foi tratada como empregada. Xavier Plassat, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), também destaca que as condições de Sônia, como o fato de viver em um quarto improvisado e sem documentação, demonstram claramente sua condição de escravizada, apesar das tentativas de dissimulação dos patrões.

Alem disso, a família de Sônia afirma que tem encontrado dificuldades para manter contato com ela, especialmente após a decisão judicial de seu retorno à casa dos Borba. A irmã mais jovem de Sônia, Marta de Jesus, relatou que as comunicações estão sendo feitas apenas por meio dos advogados, o que dificulta o contato direto com Sônia.


Sônia Livre

Nas redes sociais, a campanha "Sônia Livre" tem ganhado força, com mais de 32 mil seguidores e 10 mil assinaturas em uma petição que exige a libertação de Sônia. A situação continua a atrair atenção em todo o país, sendo considerada um dos casos mais absurdos de trabalho análogo à escravidão na história recente do Brasil.

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