O cinema brasileiro celebrou recentemente mais uma conquista no cenário internacional. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas incluiu o longa-metragem "Ainda Estou Aqui" na lista oficial de produções elegíveis ao Oscar 2025, na categoria de Melhor Filme Internacional. A produção, dirigida por Walter Salles e estrelada por Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello, destaca-se não apenas pela qualidade artística, mas também pela relevância histórica e social do enredo.
Uma história de resistência e memória
Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 2015, "Ainda Estou Aqui" é uma obra que revisita a história recente do Brasil através de um olhar intimista. O filme narra a vida de Eunice Paiva, mãe do autor, interpretada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, em diferentes momentos da vida. A trama se desenrola no contexto da ditadura militar brasileira, focando na prisão e desaparecimento do marido de Eunice, o deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, nos anos 1970.
Além do contexto histórico, o longa também aborda uma perspectiva profundamente humana: a luta de Eunice contra o Alzheimer nos anos posteriores. Esse enfoque na memória – tanto pessoal quanto coletiva – cria um paralelo entre a fragilidade das recordações humanas e a necessidade de preservar a história de um país.
Elenco de peso e direção renomada
A produção é liderada por Walter Salles, diretor conhecido internacionalmente por obras como "Central do Brasil" e "Diários de Motocicleta". O elenco reúne nomes consagrados, incluindo Fernanda Montenegro, única atriz brasileira indicada ao Oscar, e Fernanda Torres, premiada em Cannes. Outros atores, como Marjorie Estiano, Valentina Herszage, Humberto Carrão, Dan Stulbach e Camila Márdila, também têm participação destacada, reforçando a força do time envolvido.
O desempenho do elenco e a direção detalhista de Salles têm sido amplamente elogiados pela crítica. Elementos como a fotografia, trilha sonora e ambientação ajudam a transportar o público para o período retratado, criando uma experiência cinematográfica imersiva.
Representatividade no Oscar
A inclusão de "Ainda Estou Aqui" na lista de elegíveis ao Oscar representa um marco significativo para o cinema nacional. Historicamente, o Brasil teve poucas produções indicadas na categoria de Melhor Filme Internacional. Desde "O Pagador de Promessas" (1962), o país tenta, sem sucesso, conquistar a estatueta. A última indicação ocorreu em 1999, com "Central do Brasil".
Essa trajetória ressalta a importância de "Ainda Estou Aqui" para a representatividade brasileira em uma das premiações mais prestigiadas do mundo. O filme não apenas destaca a qualidade do cinema nacional, mas também leva ao público global temas relevantes e pouco discutidos, como as consequências da ditadura militar e a luta pela memória histórica.
Reconhecimento em festivais internacionais
Antes de chegar à lista do Oscar, o filme já havia ganhado notoriedade em importantes festivais internacionais. Exibido em Cannes e Berlim, "Ainda Estou Aqui" recebeu aplausos pela forma como combina uma narrativa sensível com uma temática política. Nos festivais, tanto o público quanto a crítica destacaram o trabalho de Fernanda Montenegro, cujo desempenho foi considerado uma das interpretações mais marcantes de sua carreira.
Impacto social e político
O lançamento de "Ainda Estou Aqui" coincide com um momento de crescente interesse por revisitar o passado político do Brasil. A obra convida à reflexão sobre as consequências da ditadura militar, abordando temas como a violência do Estado, o desaparecimento forçado e o impacto dessas tragédias na vida das famílias. Em paralelo, ao retratar o Alzheimer, o filme traz à tona discussões sobre saúde mental e o cuidado com idosos.
Esses dois eixos narrativos tornam o longa relevante não apenas como obra artística, mas também como ferramenta de conscientização e educação. Escolas e universidades já têm utilizado o filme como ponto de partida para debates sobre memória e história.
Produção e desafios
A produção de "Ainda Estou Aqui" envolveu uma equipe diversificada e enfrentou desafios logísticos e criativos. As filmagens ocorreram em diferentes locais, incluindo São Paulo e o Rio de Janeiro, buscando recriar a atmosfera dos anos 1970. A equipe de arte dedicou-se a detalhes minuciosos para garantir a autenticidade histórica, desde figurinos até cenários.
Além disso, a abordagem do Alzheimer exigiu pesquisa aprofundada por parte do elenco e da direção. O objetivo era retratar a doença de forma realista e respeitosa, evitando clichês ou simplificações. Para isso, os atores participaram de workshops com especialistas em saúde e familiares de pacientes.
Perspectivas para o Oscar 2025
Com a cerimônia do Oscar programada para março de 2025, "Ainda Estou Aqui" ainda precisa passar por outras etapas até a indicação oficial. A lista de elegíveis será reduzida em janeiro, quando a Academia divulgará os finalistas. Apesar da concorrência acirrada, o filme brasileiro desponta como um forte candidato, especialmente pela recepção positiva em festivais internacionais.
Fatos e curiosidades sobre o filme
O papel do cinema na preservação da memória
"Ainda Estou Aqui" reforça o papel do cinema como veículo para a preservação e disseminação da memória histórica. Em tempos de debates sobre fake news e negacionismo, obras como esta lembram a importância de revisitar o passado para compreender o presente. O filme convida o público a refletir não apenas sobre a história do Brasil, mas também sobre as conexões entre memória pessoal e coletiva.
Fonte: Redação